Eu nunca quiz ser rainha, operária estava bom, cada um nasce com um destino pra se cumprir (ou não!), mas alguns nascem para durar pouco e ser só mais um. Outros nascem predestinados a copular com 20 caras na noite de núpcias e ser rainha.
Eu poderia falar que o mundo é injusto por minha genética ser de operária, por eu não ter sorte (palavra que não acredito), prefiro lidar com o concreto, ou tento.
"Operárias não tem desejos", cresci escutando, "a gente não pode ter filhos, por isso tem que trabalhar", mas eu não conseguia concordar com isso! E todo dia eu era a primeira da fila pra receber o mel de sua boca, carmim, carnuda e vermelha que só eu enxergava. Não era trabalho, era prazer (aqui não se pode confundir as duas coisas).
Era um ato ingenuamente rebelde, não queria contrariar ninguém, nem enfrentar! Só queria satisfazer um desejo é que mal tem nisso? Em fazer mel!
"Abelha fazendo o mel vale o tempo que não voou". Eu fazia o mel! Muitas vezes eu era o mel, o zumbido na orelha, conchas do mar. Aí a rainha começou a fazer de mim instrumento de seu prazer e de sua glória.
No meu quadragésimo dia de vida subverti a natureza, nós subvertemos.
Cinco dias de vida! Faltavam cinco dias, a vida de operária tem validade. Tudo tem. Tudo é temporário. Tudo que move é sagrado. Eu não sou sagrada. Por cinco dias as operárias puderam realizar seu desejos, seja qual tenha sido eles. Depois de cinco dias eu morri, tudo ficou como antes, cada um no seu lugar e não se fala mais nisso.
*abelha rainha e amor de índio.